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21 fevereiro 2010

Mundinho particular


"Doutora, não sei mais o que fazer. Ele sempre foi uma criança tão feliz, sempre recebeu muito amor e carinho, mas não sei porque insiste em ser assim, desgarrado, distante de todos. Ele insiste em viver só, no seu mundinho particular.

Lembro-me de quando ele era ainda criança... Só começou a falar com quatro anos de idade. Fiquei tão preocupado com isso.

A psicóloga do colégio dele sempre dizia que ele tinha dificuldades em interação social. Ela dizia que ele precisava de um tratamento. Que idiota aquela mulher era... Tava chamando meu filho de que, autista é?? Quem ela pensa que é? Ele é perfeitamente normal e não precisa de nenhum tratamento, ele não é doente. Ele só é reservado, qual o problema?! Eu também era assim, e no meu tempo não tinha tratamento algum, o próprio tempo cura as pessoas.

Assim eu deixei ele penetrar cada vez mais no mundinho particular que ele criou pra si mesmo, que não tinha espaço pra mais ninguém.

Na adolescência meu filho teve alguns relacionamentos fugazes, muitos deles na verdade. Parecia que ele tinha medo de expor seus sentimentos, de se entregar plenamente a uma relação. Depois ele teve algumas namoradas, destinava a elas toda a sua emoção e esquecia que tinha amigos e família.

Ele foi se afastando lentamente de nós. À princípio lutamos para ele não ir, mas depois desistimos e aceitamos o seu temperamento desapegado. Ele se foi, permitimos que ele se fosse, sem qualquer tipo de resistência de nossa parte...

Depois de alguns relacionamentos fracassados, ele desiludiu-se quanto ao amor. Hoje ele acha que todas as mulheres do mundo são bandidas e não merecem sua consideração. Ele fechou-se de vez no seu mundinho particular, vive só.

Parece que ele é feliz assim, doutora, pelo menos parece satisfeito. Mas eu estou triste, ele não procure nem a mim e à sua mãe, parece mais que não tem família. Fico muito triste e deprimido com isso tudo. Me acho um pouco culpado por ele ser assim.

E eu que sempre achei desnecessário tratá-lo com uma psicóloga, achava que era apenas gasto de dinheiro; pois bem, aqui estou sendo tratado por uma. Que ironia do destino!"

O que fazer com uma criança que não quer falar e interagir com outras pessoas que não sejam seus pais e irmãos????

Como saber se é autismo, dificuldade de socialização ou simplesmente uma fase que se resolverá por si só???

É melhor tratá-lo ou esperar??

Esperar até quando?

[Mente Hiperativa]

Um comentário:

Hugo Otávio disse...

Interessante. Questão difícil pois não basta apenas forçar a criança a realizar determinado procedimento. Mas, acredito eu, que a antecipada percepção de algo que necessite de cuidados diminui os possíveis riscos futuros.

Blogo, logo existo.

Blogo, logo existo.
"... E que fique muito mal explicado. Não faço força para ser entendido. Quem faz sentido é soldado..."

Mário Quintana