Quando criança, me lembro bem, nunca tive um único e melhor amigo, daqueles inseparáveis que senta junto na sala de aula, passa o recreio no mesmo lugar, come o mesmo tipo de lanche, pega a mesma condução para ir pra casa... Sempre achei entediante a rotina das mesmas conversas e pontos de vista, sobretudo quando a pessoa concorda com tudo que eu digo. Optei por ter vários amigos.
A sociabilidade é um traço da minha personalidade, portanto ao invés de fazer o que muitos fazem, buscar um lugar confortável em grupo seleto (como 'um porto seguro'), prefiro conhecer os diversos grupos e aprender o que cada um deles têm a me ensinar. Sou assim, me sinto no mundo, trocando idéias, confirmando ou alterando minhas opiniões, 'experimentando' os outros, sem pertencer a qualquer grupo ideológico.
A princípio posso parecer um indivíduo estranho (mas não sou!), visto que instintivamente o homem procura se estabelecer em pequenos grupos que se juntam e se apóiam mutuamente e eu não faço isso. Bem, se isso for uma regra então eu posso até ser um pooouco estranho... pois comigo é diferente, diante da formação de 'panelinhas' eu me mantenho fora delas, como uma 'tampa sem panela'; mas não é que eu não me identifique com nenhuma, pelo contrário, me identifico com várias! Me vejo um pouco em cada grupo e talvez por essa condição eu permaneça vagando por eles, procurando me sentir em todos, mesmo sabendo que no final das contas eu não pertenço a nenhum.
Por quê eu deveria escolher um grupo e me fechar nele?Muitas pessoas sentem necessidade de encontrar um grupo que tenha pensamentos semelhantes aos seus; algumas delas, depois, se fecham nesse ambiente e limitam seu contato com o 'resto'.
Por que me limitar? Por que parar de aprender se há tantas coisas no mundo que eu ainda não sei?
Dessa forma suas convicções tornam-se paulatinamente fortes e infundadas, visto que já deixaram de ser questionadas; além disso, sem notar, deixam de conhecer (e entender) tantas outras realidades que estão próximas, o que frequentemente leva à intolerância; passam o dia fisicamente próximas de pessoas que não conhecem, não sabem sequer o que elas pensam.
Por isso tudo sinto a necessidade de me sociabilizar com todos os grupos, não importando se são um grupo de católicos, espiritas ou evangélicos; podem ser crianças, adultos ou idosos; atletas, bagunceiros ou elitistas; enfermeiras, médicos ou odontologistas...
Antes de tudo são pessoas, podem pensar diferente de mim mas isso não pode ser um impecilho para nossa aproximação. Acredito na necessidade de confrontar idéias e mudar os pontos de vista quando nescessário; afinal na minha vida não quero ter certezas, não quero permanecer engessado nos meus pensamentos, quero ser livre para cogitar possibilidades, aceitá-las, depois modificá-las, ou mesmo rejeitá-las e depois resgatá-las novamente...
Como cantou Nando Reis na canção a letra A, "certeza é o chão de um imóvel, prefiro as pernas que me movimentam". Eu acredito nessa, e pra que isso tudo ocorra é preciso sair da acomodação de uma 'micro-sociedade' e encarar o mundo de frente.