Novamente irei tratar o tema da 'loucura', mas dessa vez especificamente sobre um movimento de dimensão nacional que luta não só contra a exclusão e cárcere dos pacientes psiquiátricos, mas também pela consolidação de seus direitos civis; constitue portanto uma crítica às instituições asilares e uma busca por alternativas de transformação.
O manicômio
Para entender a motivação da luta anti-manicomial é preciso conhecer um pouco sobre a estrutura e funcionamento dos manicômios. Essas instituições surgiram com a finalidade de oferecer uma assistência intensiva aos portadores de transtornos mentais mas, ao contrário do que podia se esperar, tornou-se um ambiente carregado de imposição e violência, que priva a liberdade e por isso tudo dificilmente consegue cumprir seu papel de recuperar os indivíduos que lá foram internados. A partir do ano de 1964, devido ao golpe militar, instituíu-se a privatização maciça da assistência médica, o que levou os manicômios a se tornaram verdadeiras empresas que ao invés de se empenhar no tratamento passaram a cronificar as ‘doenças mentais’ para que os pacientes permanecessem internados, gerando lucros.
O início do movimento
A princípio o movimento tinha um perfil sindicalista, profissionais de saúde que trabalhavam nas instituições psiquiátricas exigiam melhores condições de trabalho, aumento do quadro de funcionários e maior investimento público. Diante do insucesso sa reivindicações e da crescente indignação frente às condições de tratamento, o movimento mudou de direção e passou a se guiar pelo seguinte lema: "por uma sociedade sem manicômios". Nesse contexto, foram muito importantes as conferências nacionais de saúde mental, pois essas discutiram e apontaram estratégias para a implementação da reforma psiquiátrica, baseando-se sempre em referências internacionais exitosas (sobretudo da Itália).
A proposta
Diante do caos da instituição chamada manicômio - que se tornou cada dia mais evidente - surgiu a proposta de humanização que visava acabar com esse espaço e estabelecer unidades alternativas de tratamento, para que os pacientes (muitas vezes abandonados pelas famílias) não ficassem desassistidos. Assim, os usuários do serviço psiquiátrico, seus familiares, ONGs e outros setores da sociedade aliaram-se aos profissionais de saúde e engajaram-se nessa luta, transformando um mero movimento trabalhador em uma grande mobilização social.
Os locutores
É importante perceber que devido à falta de autonomia e de acesso aos meios de comunicação os pacientes estavam impossibilitados de reivindicar qualquer direito, precisariam portanto de um porta-voz que mostrasse seu sofrimento à sociedade. Esse papel foi então desempenhado pelos profissionais de saúde (médicos, assistentes sociais, técnicos e psicólogos) que trabalhavam nas clínicas e portanto conheciam a rotina torturante a que estavam submetidos os internados. O movimento, inicialmente trabalhador, evoluiu e se encarregou de expor à sociedade o problema dos manicômios, reivindicando que os valores de justiça, solidariedade, igualdade e respeito se estendam a todos os cidadãos, INCLUSIVE aos pacientes psiquiátricos.
A alternativa
Inspirado na reforma psiquiátrica italiana, o movimento anti-manicomial Brasileiro defende a criação de uma rede de serviços hierarquizados que propiciem uma reabilitação psicossocial, e não apenas o tratamento da expressão sintomática. Essa idéia de ressocialização inclue o acesso dos pacientes ao trabalho, lazer, cultura e à educação, direitos legítimos de qualquer cidadão. Os portadores de trantornos mentais, considerados como loucos pela sociedade, querem mostrar que são capazes de serem atores sociais, não querem viver encarcerados em clínicas e isolados do mundo.
A nova estrutura
Como alternativa aos manicômios, o projeto de reforma psiquiátrica propõe o tratamento residencial dos portadores de transtornos mentais, além de um serviço de suporte e acompanhamento do paciente e da sua família. Existem ainda as "pensões protegidas" ou "lares abrigados", destinados aos pacientes que não têm suporte social e laços de família, nessas casas (em comparação com os manicômios) os pacientes têm mais autonomia, uma maior liberdade e são assistidos por um cuidador que, além de outras obrigações, fica responsável pela administração de remédios.
A consolidação
Para que o objetivo de ressocialização possa ser alcançado com sucesso é preciso a participação da sociedade civil na efetivação e acompanhamento de todo o processo de mudança. Principalmente, é necessário que deixemos de lado nosso preconceito e aceitemos a condição de cidadão que eles também possuem, possibilitando assim que eles de fato participem da sociedade.
[Mente Hiperativa]
Links interessantes:
Serviços residenciais terapêuticos em saúde mental: uma proposta que busca resgatar a subjetividade dos sujeitos?
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902007000300010
Reforma psiquiátrica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_psiqui%C3%A1trica
O movimento antimanicomial: movimento social de luta pela garantia e defesa dos dos direitos humanos
http://rbr4.dizinc.com/~ppgcj/gerencia/docs/04052007022704.pdf
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