Já começo o ano colocando à prova meu próprio ponto de vista acerca da loucura. Parece que agora a idéia que por tanto tempo sustentei -de que todos nós somos loucos e que o conceito de normalidade seria vazio e inconsistente- já não me serve mais, não me parece mais viável.
Talvez o único louco seja eu, e as outras pessoas sejam de fato normais (sem as velhas aspas).
Depois de muito refletir e estudar a loucura (e a mim mesmo) penso que talvez eu tenha optado por enxergar um louco em cada pessoa apenas pra me sentir um pouco menos esquisito. O que foi uma grande bobagem da minha parte, pois ainda na escola eu tinha lido 'o alienista' (falei dele AQUI) e o protagonista da história passou pelo mesmo processo que passei, chegou à mesma conclusão que cheguei. Ele enxergava todo mundo como sendo louco até poder entender que era um subterfúgio, ele não queria acreditar que o único louco era ele mesmo. Será que todo louco passa por isso?
Me sinto agora o próprio Simão Bacamarte.
Antes de entender tudo isso e admitir que o problema estava em mim, e não no mundo, eu tinha escutado dizer que "de perto ninguém é normal", então a partir daí peguei minha lupa (quiçá até meu microscópio) e passei a observar as pessoas o mais perto que pude. Assim, vasculhei o íntimo de cada uma delas e o fiz exaustivamente até encontrar características que me levasse a crer que são também loucas como eu. Parece que isso traz algum conforto a quem realmente é louco.
Depois disso ficou bem claro na minha cabeça o mito de que os 'psiquiatras são todos loucos'. Lógico, eles não se conformam em serem os únicos loucos, então passam a investigar a possível loucura alheia pra não se sentirem sozinhos nesse mundo repleto de pessoas normais. E o fazem com todo o amparo legal e moral, afinal isso é uma profissão regulamentada, eles não estão fazendo nada de errado.
Então é isso, começo o ano me questionando, revendo meus conceitos, inclusive os mais bem fundamentados. Agora penso que talvez EU não seja normal, e pronto. O que não implica que as outras pessoas também não sejam.
Talvez eu precise admitir isso a mim mesmo, precise assumir minha condição e buscar ajuda, um tratamento adequado às minhas limitações. Talvez seja esse o processo e o caminho certo. Chega de pensar que todos são loucos.
10 comentários:
O problema é definir onde começa a loucura e começa a normalidade.
Talvez seja uma diferença muito mais conceitual. Na prática, penso que se te traz sofrimento, é patológico. Senão, é a vida!
Concordo com a Ana.
¨de médico e de louco, todos nós temos um pouco¨
Um abraço!
Conseguir distinguir loucura de normalidade é bem complicado, nunca sei se o que eu penso, o que eu faço é normal.. adoro teus textos.
Aqui é um hospício mesmo hehehe
Olha a placa no início... :P
Ana SS:
"Talvez seja uma diferença muito mais conceitual. Na prática, penso que se te traz sofrimento, é patológico. Senão, é a vida!"
E a vida não traz sofrimento?
Loucura e normalidade, tudo está tbm no social! No que a sociedade convencionou chamar de normal e anormal! A esse respeito lembro de uma parte do livro veronica decide morrer...(postei lá no blog! agora pra vc!)
Loucos, normais, quem saberá a fronteira , o que define a fronteira!?
A vida é uma loucura, viver é uma loucura, portanto viva essa lokura, sem pirar....
Abçs
Oi,meu caro!Eu ainda acredito que de perto ninguém é normal, aliás nem a meia distância nem de longe, ninguém é normal e ponto final,claro que tem aqueles que fogem totalmente dos padrões,mas ai é outra história...
Feliz 2011!
Beijosss
Com "é a vida!" refiro-me ao fato de não nos acostumarmos às coisas que nos trazem sofrimento. Há quem se queixe demasiadamente, e nada faça para mudar. Há que se aprender a amar até mesmo as nossas dores.
Já disse o poeta, né...a dor é inevitável, o sofrimento é opcional.
Na verdade, Senna... O conceito de normalidade e loucura é algo mto melindroso...o que é ser normal? Nenhum de nós o somos... Tenha certeza de que somos loucos tentando fingir uma normalidade por medo... Quem coloca as rédeas em nós é a sociedade que regra toda e qualquer forma de subjetividade... SOMOS LIVRES VERDADEIRAMENTE PARA SER QUEM SOMOS? Talvez não... Talvez o louco só queira ser ele mesmo, por estar farto de tanto esconder-se... Ele está sendo mais sensato que nós? E a nossa mente sã que costuma nos enclausurar em uma máscara de alguém ideal que não existe?
Se a normalidade existisse, existiriam seres humanos perfeitos, não acha? Eu também...
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