João tinha origem humilde -que por sinal fazia questão absoluta de esconder de todo mundo- era tanto cuidado em ocultar as raízes que até os pais ele sentia vergonha de apresentar aos poucos amigos que mantinha ao seu redor; também não gostava de sair com eles para o shopping ou para um restaurante por exemplo, dizia que eram dois caipiras sem modos e sem educação.
João cresceu na vida, é verdade, estudou, arrumou um bom emprego público, mas seus pais continuaram a viver na roça, por opção, gostavam daquela vidinha tranquila e sem relógio, não trocariam aquilo por uma vida urbana, jamais se adaptariam. João até que gostava dessa situação, era muito cômodo pra ele que não gostaria nem um pouco de ter os pais 'caipiras' morando na sua casa, assim ele deixou-os largados lá naquela cidadeZINHA, no meio das galinhas e dos porcos.
Quando veio estudar na capital João já sabia bem o que queria da vida, direito, queria ser juíz, não um juizinho qualquer, mas um grande juiz, poderoso. E ele conseguiu, hoje é um notável juiz federal, muito conhecido pela competência, mas não só por isso, também pela extrema arrogância. Ele é daqueles que anda sem olhar para os lados, trata como lixo as pessoas humildes, de cargos inferiores ao seu. No tribunal ele se sente praticamente um imperador, só porque saiu de onde saiu pra chegar onde está, se sente mais importante que os outros. Ele não deveria jamais ter esquecido que um dia passara fome e tivera uma vida mais miserável do que muitos daqueles que, honestamente, ganham a vida limpando o chão do tribunal pra que ele possa proceder com seus julgamentos.
Mas João não pensava nisso, não se preocupava com as outras pessoas, estava pouco se lixando pra elas e nada disso tocava seu coração engessado. Coração engessado sim, a vida (ou ele mesmo) tornou João uma pessoa amarga, orgulhosa, de pouquíssimos amigos, sendo a maioria por interesse e conveniência. Seu coração, engessado e paralisado, às vezes parecia nem bater, ali dentro não circulava sentimentos como numa pessoa normal. João vivia como se não tivesse nem família, mandava dinheiro para os pais quando esses tinham dificuldades e pronto, quase não mantinha contato, não dava nem uma ligação pra saber se estavam bem.
Dessa forma ele vivia só pra ele, numa vida infrutífera, parecia viver somente para o trabalho, quando na verdade era lá que ele se escondia pra não ter que pensar na vida, na vida que ele escolheu pra si mesmo.
Desde o começo ele sempre mostrou uma sede inexplicável pelo status e pelo poder, era isso que ele sempre sonhou pra si, como se quisesse se afirmar de alguma maneira, mostrar que era capaz.
Mas mostrar que era capaz de que?
Porque tanta necessidade de MOSTRAR aos outros?
Porque tanta sede pelo poder?
Talvez João quisesse compensar o vazio que carregava dentro de si, achou que com poder e com o dinheiro tudo ia mudar, ia ser mais feliz, cheio de amigos e oportunidades, longe daquela pobreza e miséria em que vivia quando criança, queria fugir dessas lembranças, apagar o passado.
O dinheiro de fato lhe trouxe bastante fartura, comida jamais faltou à mesa, também lhe trouxe um bom carro importado, uma cobertura de dois milhões, relógios caríssimos e tantos outros bens materiais; mas trouxe também a arrogância da qual ele não soube se livrar, não soube trabalhar essa ascensão vertiginosa e o ganho repentino de poder.
João quando estava ainda na roça, sonhava ser rico e poderoso, achou que assim seria mais fácil de ser feliz, pensou que o dinheiro por si só resolveria tudo e até hoje ele ainda está esperando as coisas serem resolvidas, de braços cruzados. Até quando, João?
Hoje em dia ele chega em casa, em sua cobertura de dois milhões, depois de um dia de trabalho e percebe que o silêncio e o vazio tomam conta. O apartamento parece um deserto, sem ninguém, sem alegria, sem uma música ou pessoas conversando, crianças gritando, não há ninguém no apartamento assim como não há ninguém na sua vida. Ele é capaz sim de perceber que o vazio não está só ali naquele espaço físico, mas também no seu peito. E nessas horas João se pergunta: "De que adiantou, tanto trabalho e o que eu conquistei além de muito dinheiro e olhares tortos de pessoas que me odeiam, me veêm como o capeta?", "mas o que posso fazer agora???"
Ele não sabe o que fazer, se sente encurralado, condenado a continuar vivendo assim, não vê saída ou solução. Ele não sabe que depende só dele. Somente o prório João sabe o quanto se sente um 'João-ninguém', mesmo amntendo a pose e fazendo questão de ostentar a cara de mau, ele se mantém arrogante para que as pessoas se afastem e não descubram suas fraquezas.
Até quando, João? Até quando?
[Mente Hiperativa]
3 comentários:
Coitado do João!
hêee...
é como diria minha avô: Jão dend'água
kkk, joão conheceu o mundo e esqueceu do quintal da casa deli , que triste :<
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